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revoltas. Os que não participam dos cargos públicos revoltam-se por vê-los
todos serem concedidos a outros. Sua repartição só é justa quando se faz
segundo o mérito; é injusta quando pessoas sem talento os conseguem,
enquanto que os outros, apesar de sua virtude, são excluídos.
A sedição também acontece por demasiada preeminência, quando um
ou vários cidadãos se elevam a um grau de potência maior do que convém à
dignidade e às forças do Estado, o que comumente degenera em monarquia ou
coalizão tirânica, conhecida sob o nome de dinastia (ou politirania); por isso, é
costume em alguns lugares, como em Argos e em Atenas, afastar a tempo
esses personagens, tipo de banimento chamado ostracismo. Seria melhor,
porém, como dissemos, prevenir, desde o princípio, a superioridade, do que
remediá-la depois de tê-la experimentado.
Outra causa de revolta é, entre os culpados, a consciência de um grande
crime e o medo de ser punido por ele, ou, ainda, o perigo de que se está
ameaçado e se quer prevenir. Foi assim que em Rodes os nobres conspiraram
contra o povo para deter as perseguições judiciárias iniciadas contra eles.
Também o desprezo conduz da desobediência às conspirações e à
sedição. Nas oligarquias, quando os excluídos dos cargos são maioria e se
sentem os mais fortes; nas democracias, quando os ricos desprezam os
membros do governo que desempenham mal suas funções ou os negligenciam.
Assim, em Tebas, a democracia mal governada foi inteiramente arruinada
depois da batalha das Vinhas; em Megara, após duas perturbações e sua
anarquia; em Siracusa, antes da tirania de Gelão; em Rodes, depois do motim
dos nobres contra o povo e da insurreição contra Atenas.
Os crescimentos desmedidos de uma classe relativamente às outras
também são causas de revolução. Assim, os membros que compõem um corpo
devem crescer proporcionalmente, para que subsista a mesma comensura. O
animal morreria se o pé, por exemplo, crescesse até quatro côvados, não tendo
o resto do corpo mais do que dois palmos; poderia até degenerar em outra
espécie, se crescesse de tamanho e sofresse alteração de figura além de sua
proporção natural. Assim também o Estado, sendo de maneira semelhante
composto de partes, altera-se e se enfraquece se algumas delas, como
freqüentemente acontece, crescem insensivelmente em detrimento das outras,
por exemplo, a massa dos pobres nas democracias e nas Repúblicas.
O acaso às vezes traz estas mudanças. Em Tarento, i tendo sido a maior
parte da nobreza, pouco depois da guerra dos persas, derrotada pelos Lapiges,
passou-se da República para a democracia. Em Argos, depois do massacre
feito pelo lacedemônio Cleômenes sobre seu exército perto do Hebdome (ou
Teatro), os habitantes foram obrigados a admitir seus camponeses entre os
cidadãos. Em Atenas, depois de ter perdido contra os espartanos a batalha
terrestre, a nobreza que se recrutara para esta guerra diminuiu
consideravelmente e foi forçada a ceder ao povo. As mesmas modificações
ocorrem com as democracias, mas são mais raras. Por exemplo, quando a
quantidade de pobres aumenta e vários deles se tornam ricos, ou então quando
os bens dos ricos aumentam de valor, passa-se à oligarquia, e até à oligarquia
concentrada que chamamos politirania.
Às vezes, sem que haja sedição, o governo muda em razão de seu
aviltamento, como em Heréia, onde começaram a se envergonhar das eleições
e os magistrados foram depois sorteados, por causa da torpeza dos eleitos. O
regime ainda se modifica por negligência, quando se deixa que cheguem à
suprema magistratura homens mal intencionados para com a pátria, como
Heracleodoro em Oréia, o qual, após sua promoção, transformou a oligarquia
em democracia.
Algumas vezes a mudança se realiza através de progressos imperceptíveis;
no final, fica-se admirado vendo os costumes e as leis mudadas sem que se
tenha atentado para as causas ligeiras e silenciosas que preparam as
mudanças. Na Ambrácia, por exemplo, depois de ter escolhido magistrados de
pequena fortuna, passou-se a admitir pouco a pouco alguns que não possuíam
nada. Ora, há pouca ou nenhuma diferença entre nada e muito pouco.
A diversidade de origem entre os habitantes também excita querelas até que
estejam bem acostumados a estarem juntos. Assim como um Estado não se
forma com toda espécie de gente, tampouco se cria em um instante. Todos os
que admitiram estrangeiros para residir em sua cidade, foram quase sempre
enganados por eles, como os de Trezena, que, em Síbaris, receberam os
aqueus. Foram obrigados a ceder-lhes o lugar quando o número deles
aumentou, o que causou a desgraça. Os sibaritas retiraram-se para Túrio e ali
fizeram a mesma tentativa, mas, querendo dispor do território como senhores,
foram vencidos e expulsos. Os bizantinos sofreram algo semelhante da parte de
estrangeiros e tiveram subitamente que recorrer às armas para repeli-los. Os
antisianos, que de modo semelhante haviam aceitado os banidos de Quios,
também se viram obrigados a livrar-se deles pela força. Os zanclianos foram
vencidos e expulsos pelos de Samos, que os tinham recebido. Também foram
estrangeiros que perturbaram os apoloniatas do Ponto Euxino. Os siracusanos,
após a expulsão de seus tiranos, tendo tornado cidadãos alguns soldados e
mercenários estrangeiros, tiveram tantos aborrecimentos por causa disso que
foi preciso romper com eles. Os de Anfípolis foram quase todos expulsos pelos
de Cálcis, por tê-los recebido em sua cidade.
Nas oligarquias, quem conspira é o povo, considerando injurioso que,
apesar de sua pretensa igualdade, não o admitam nos mesmos postos. Nas
democracias, quem se revolta são os nobres, por verem que são colocados no
mesmo plano que os que não o são.
Às vezes a sedição parece derivar da própria natureza do lugar que foi mal
escolhido para habitação. Em Clazômenas, os habitantes do Centro (ou bairro
dos banhos) detestam os da ilha; em Cólofon, a parte do norte odeia a do sul; [ Pobierz całość w formacie PDF ]
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